Na decada seguinte as coisas começaram a tomar um ar mais ousado, bons exemplos disso é o mangá de boxe - Ring ni Kakero (Masami Kurumada), ou Astro Kyudan (mangá de beisebol criado por Norihiro Nakajima). Apesar de elementos fantasiosos, ainda se baseavam em esporte existentes.
Na decada de 80, os gêneros da ficção científica e fantasia se tornaram a principal atração, e até hoje, os shonen mangá estão repletos por vampiros, cyborgs, entre outras coisas. É focado nesse cenário que surgiu Saint Seiya, um dos mais influênte e fantasioso título que desfilou pela Shonen Jump.
Saint Seiya é possivelmente o melhor mangá de combates da Shonen Jump nos anos 80. É fácil encontrar obras influênciadas pelo título, alguns deles: Yu Yu Hakusho, Bleach, Yu Gi Oh!, Naruto.
A história começa mostrando seu protagonista, Seiya, um jovem rapaz determinado a cumprir treinamentos além dos limites humanos. Seiya é um, entre 100 orfãos, enviado pela Fundação Graad para diversas partes do mundo afim de conseguir uma armadura de santo (cavaleiro). Na Grécia, ele é treinado por Marin, uma mulher misteriosa com uma máscara.
Seiya tem grande rancor contra a Fundação Graad, que o separou de sua irmã Seika no orfanato Crianças das Estrelas (Hoshi-no-ko Gakuen). O motivo de toda essa tragédia que ronda o jovem, assim como sua ida para a Grécia tem como finalidade torná-lo um santo de Athena, um lendário grupo de guerreiros dedicados a proteger o mundo e garantir a justiça contra o mau. Além disso, Saori, a neta mimada da Fundação Graad, é na verdade a encarnação da Deusa Athena. Seiya depois de longos 6 anos se torna o cavaleiro de Pegaso, e logo reencontra seus amigos no Japão, apenas 10 conseguiram voltar com as armaduras de santos, dentre eles: Shiryu de Dragão, Hyoga de Cisne, Ikki de Fênix e Shun de Andrômeda.
Apesar de todos tormetos submetido em seus treinamentos, isso foi apenas a ponta da lança para a responsabilidade que veio a seguir. Além de sua incrível capacidade física, os santos tem dois poderes que vale ressaltar.
1) Um deles é o COSMO, que é basicamente como o Chakra ou Ki, mas baseado em uma idéia elegantemente compreensível: todo objeto detem dentro de sí parte do cosmos inicial gerado pelo BIG BANG, aqueles capazes de liberar essa energia subatômica desses átomos podem realizar proezas incríveis.
2) O segundo poder dos santos é sua armadura, criada pela Deusa Athena, que se baseou nas constelações do céu. É classificada em três tipos: bronze, prata e ouro (sendo este ultimo o mais poderoso e cheio de acessórios).
Artes marciais, mitologia, história de fundo trágica e uma linha enorme de brinquedos... esses são todos elementos que fizeram de Saint Seiya um sucesso. Mais do que qualquer outro mangá que eu consigo me lembrar, a obra é repleta praticamente de lutas. Ao saber inicialmente o conceito proposto por Kurumada, é de se pensar que haveriam cenas de monstros mitologicos destruindo cidades, várias aparições de deuses e etc. Ao inves disso, você vai encontrar jovens com belos cabelos compridos ferindo uns aos outros.
Existem algumas páginas aqui e ali onde você encontra um acontecimento sem qualquer cena de combate, mas visivelmente o autor preferiu se focar numa estética simplificada onde aparecem 100% de batalha, lembrando um pouco os tokusatsus e seus "monstros do dia". Dizendo isso, você pode ter em mente que pode pegar o mangá em um volume qualquer e ver muitas lutas legais e vai fazer tanto sentido quanto para alguém que le desde o início.
É claro que apesar de simples, a trama presente nos 28 volumes de Saint Seiya tem arcos complexos:
O primeiro - Arco Santuário, conta a história dos santos de bronze, que enfrentam-se entre sí num torneio para despertar uma conspiração que pendura no santuário (centro do poder de Athena) por anos, eles são acusados de traidores e devem enfrentar os inimigos enviados pelo Papa - braço direito de Athena, é quem comanda suas tropas.
Sua sequência de lutas leva-os para o santuário em um confronto direto ao Papa (que na verdade é um impostor) para reestabelecer a ordem, os cinco santos de bronze travam confrontos eletrizantes contra os doze santos de ouro para salvar a vida de Athena.
O segundo - Arco de Poseidon, mostra um desafio real a humanidade, ou seja, uma entidade divina. Assim como Saori é a encarnação de Athena, existem outros seres humanos na Terra que receberam entidades dos deuses, e eles não estão felizes. Poseidon, o deus dos mares inicia seu plano de afundar a Terra sob as ondas e chuvas torrencias, afim de eliminar a humanidade por tratar tão mal seu planeta.
O Terceiro e ultimo - Arco de Hades, é tido como o melhor por muitos. O deus do mundo dos mortos retorna de seu sono, seu exercito é composto por 108 espectros e dois deuses menores (Hypnos e Thanatos). Os santos de ouro mortos são revividos como inimigos, mas este é apenas uma distração para o real objetivo: Bloquear a luz do sol, alinhando todos planetas, assim todo o mundo dos mortos reinaria sobre a Terra. Nesse arco temos um inferno influênciado pela Divina comédia de Dante, Shun sendo a encarnação de Hades, recriação do conto de Orpheu e os juizes Rhadamanthys, Minos e Aiacos. Um sucesso bem recebido pela critica.
Este é um mangá composto por: homens, homens, homens... O elenco de Saint Seiya é quase exclusivamente masculino, mas existem aqueles que apresentam uma beleza semelhante a feminina. Shun de Andrômeda, é o exemplo mais óbvio, mas o mangá inclui outros personagens bishonen: Misty de lagarto e Aphrodite de Peixes. A moral - um pouco de androginia pode ser bom, mas em grande escala pode ser torturante. Não é nenhuma surpresa saber que a obra era popular entre dojinshi yaoi nos anos 80 (a CLAMP fazia parte desse grupo).
Kurumada é repetitivo em alguns acontecimentos de seus mangás, isso pode não agradar muitos fãs.
Saint Seiya é um dos mangás mais masoquistas que ja li. Se você não pode machucar seu oponente, você pode, pelo menos, provar sua masculinidade e ferir a sí mesmo, se isso servir de alguma forma para matar seu oponente, exemplos:
- Depois de ser derrotado por Hyoga, o Cisne negro arranca um de seus olhos e teletransporta para seu mestre (Ikki), assim o golpe "Kholodyni Smerch" seria evitado por Fênix, que viu a cena na retina do olho do Cisne Negro.
- Quando Seiya está sofrendo da Morte Negra, Shiryu perfura o corpo do Pegasus, esguixando sangue "Tudo bem, estou abrindo seus pontos cosmicos" diz Shiryu;
- Ao enfrentar Algol de Perseu, Shiryu rasga seus olhos para evitar ser transformado em pedra;
Mesmo repleto de mortes, sangue e desmembramento, Saint Seiya de alguma forma nem parece violento. Os combates são realizados em sua maioria utilizando somente socos e chutes, nada de objetos pontiagudos ou armas de fogo. Para completar, raramente acontecem cenas de impacto explicito. As cenas de luta são desenhadas de tal forma que os personagens estilizados geralmente parecem estar acertando o leitor mais do que o oponente: alguém está dando socos no ar, e depois blam, no outro quadro tem alguém sendo arremessado no ar!
A obra apresenta várias técnicas com efeitos "pior que a morte", Mascara da Morte invia suas vitimas para o submundo e seus espiritos amargurados ficam vagando por sua morada e cobrindo as paredes do local. O Golpe Fantasma de Fênix cria um mundo de ilusão, onde o oponente tem um terrivel pesadelo e diminui sua capacidade motora. O cavaleiro de Gêmeos envia suas vítimas para outra dimensão, vagando eternamente sem rumo. Shaka de Virgem lança seu oponente em um dos seis reinos budisas da Transmigração.
Esse tipo de coisa são o tempero de vida em Saint Seiya, já que o conteúdo artistico e a historia são bastante simples, consistindo de: caras parecidos, armaduras bem elaboradas e lugares de pouco acesso, onde as lutas acontecem um-a-um. "Vá em frente, encontro você depois" se tornou uma marca usada inclusive em outras séries.
Outra ferramenta interessante utilizada por Kurumada é a fotocopiadora. Em algumas batalhas, o background é coberto pelo espaço cósmico. Quando Ikki enfrenta Shaka, o fundo se enche de arte fotocopiada de mandalas budistas. Provavelmente foi feito para poupar tempo, mas o resultado final ficou incrível.
Kurumada Blasfemador? É fato que o autor usa referências de todas culturas, inclusive a cristã, que sempre é vista por esses lados como "intocável". Exemplos:
- O regente de Athena, e vilão do primeiro arco é chamado Papa (no resto do mundo foi adaptado para Grande Mestre), ele usa vestes longas e uma grande cruz no pescoço, sem contar que viaja entre as pessoas comuns e entrega sua unção para remover os pecados daqueles que estão proximos a morte.
- Ser crucificado, ou pelo menos amarrado a uma cruz (Marin), é uma das torturas infligidas a Seiya e seus amigos. Mitsumasa Kido (Dono da fundação Graad e pai dos protagonistas), realizou a vontade dos deuses mesmo que para isso fosse visto como um monstro cruel, esse trecho da história tem uma citação de Abraão.
- Em Poseidon, o deus dos mares diz ter polpado no passado Noe e sua familia, fazendo assim outra referência a Bíblia.
- No arco de Hades, os idéais cristão e grego estão inextricavelmente misturados. Seiya, nos momentos finais da história faz o discurso no qual culpa os deuses por todos problemas da humanindade, declarando seu ateísmo ou anti-teismo. Como curiosidade, vale dizer que há pequenos grupos na Grécia nos dias de hoje dedicados a reviver a antiga religião, e alguns deles provavelmente odeiam Saint Seiya.
Cansado(a) de ler? Desculpe, me empolguei por se tratar de uma obra que representa tanto para mim. Sei que existem outros mangás shonen de luta que são mais sofisticados, mais inteligente, melhor elaborado, mas posso dizer que pode não haver outro tão sincero. Saint Seiya é um sucesso fabricado, mas ele é perfeito por ser o que é. A melhor maneira de perceber isso é dedicar um tempo para lê-lo.
Você pode baixar o mangá AQUI
Espero que tenham gostado da matéria, ja nee /o/
Olá Márcio!
ResponderExcluirCaramba, quanto tempo hein? Ah eu vivo na correria mas sempre tento comentar nos blogs que sigo rs. Quanto á AS eu recomendo que tente obter o manga sim..vale á pena pela história e3 pela arte!
bjs
Interessante. Tinha percebido essas referências ao cristianismo. Os fãs não costumam notar ou falar sobre elas.
ResponderExcluirAcho que uma das coisas que deixa a série interessante são as referências.
Sem querer ofender mas saint seiya é bem ruim, o anime concertou várias coisas do mangá, mesmo assim eu gosto muito, afinal é Cavaleiros...
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